Além de divertir, filme homenageia o cinema mudo
The Artist (2011) é um filme que pode afastar muita gente. Afinal, como o subtítulo diz, ele é um filme mudo — em questões de falas, por que nenhum filme é mudo, de fato. Há, pelo menos, trilha sonora em todos. E isso, ser "mudo", não é mais “aceito” hoje em dia. Com o avançar do tempo, o que era a regra na indústria cinematográfica foi posto de lado e substituído pelo cinema falado — personagens que emitem sons das bocas.
E o próprio The Artist brinca com essa ideia.
A história é sobre um famoso, e arrogante, ator, chamado George Valentin (interpretado por Jean Dujardin), que domina o cinema mudo e faz muito sucesso. Contudo, com o surgimento do cinema falado, George, que teima em manter o seu orgulho acima da razão, pois não aceita esse momento de transição, é abandonado pelo empresário, e, posteriormente, ao esquecimento por tudo e por todos... Aliás, quase todos.
Algo interessante de se saber é que, a respeito da produção do filme, é falado que o diretor, Michel Hazanavicius, sempre teve a vontade de fazer um filme mudo, por algumas razões. Desde o fato de que muitos dos cineastas que ele admirava vinham desse período, ou pelo motivo de que, no cinema mudo, a imagem é o que predomina.
O curioso é que, inicialmente, a ideia não foi bem recebida, mas, ainda assim, foi adiante. E o resultado: The Artist ganhou 5 Oscar, 3 Globo de Ouro e 7 (!) BAFTA. E não por que o filme está no famigerado cinema de arte (ou algo parecido). O filme é excelente mesmo!
Além de ser mudo, o filme é todo em preto e branco; mais as cartelas indicativas das falas das personagens. E, obviamente, há o acompanhamento da trilha sonora e efeitos sonoros durante todo o filme, o que contribui com a narrativa. O pacote completo!
O elenco principal é composto por Jean Dujardin, como George Valentin (já mencionado), e pela atriz Bérénice Bejo, como Peppy Miller. Ambos são muito bons atores e dão bastante vida e carisma aos seus personagens.
Peppy é uma aspirante a atriz que anseia em ser uma diva do cinema. Esperta, aproveita uma oportunidade de aparecer à custa de George. No começo, ela é apenas uma figurante, mas, aos poucos, galga uma carreira. Pequenas aparições. Pequenas participações. Já começa há atuar um pouco mais. Até que uma oportunidade de ouro aparece: a chance de atuar de um “novo” tipo de cinema, em que as pessoas falam!
O que vem a seguir é: o declínio de George e a ascensão de Peppy.
Esteticamente, é uma obra que trabalha bem com os recursos utilizados. A trilha e os efeitos sonoros dão o tom pretendido. As interpretações são bem expressivas e destacadas, e expõem bem essa condição do "não falado". E a própria linguagem é fluida nesse sentido. Não parece uma obra que tenta imitar o vigente de uma época. Ela tem substância e identidade própria, apesar de essa singela homenagem.
E o filme termina, também, por apresentar um dos gêneros mais tradicionais do cinema: os musicais.
Antes de finalizar, devo comentar uma mensagem bonita que há no filme: gratidão (mas não igual a essa onda ridícula que surgiu com as redes sociais). Quando conseguimos algo, por intermédio de alguém, nada mais do que justo devolvermos essa gentileza, em qualquer circunstância; e Peppy faz isso com George. É ela quem dá uma mão amiga ao ator, quando ele já está prestes a desistir de tudo.
Enfim, para quem quiser conhecer um pouco do cinema mudo, e, mais especificamente, algum movimento, dê atenção ao Expressionismo Alemão. Obras como O Gabinete do Dr. Caligari (1920), Nosferatu (1922), As Mãos de Orlac (1924) e Metropolis (1927) — é possível encontrar todos na internet — trazem um conceito estilizado com certas exigências. Ademais, algumas obras do cinema clássico se mantêm essenciais.
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