Apesar das quatro horas, versão do diretor soou melhor que seu predecessor
Saindo de um filme enfadonho, com uma pegada mais cômica e tendo sido finalizado pelo diretor Joss Whedon, após a tragédia que acometeu a família do Zack Snyder, Zack Snyder's Justice League foi a materialização do que a Liga da Justiça deveria ter sido lá atrás: uma história sombria, na linha do que foi o horroroso Batman vs Superman: Dawn of Justice (2016) e do moderado Man of Steel (2013). Aqui, Snyder, usufruindo-se de um tempo demasiado, trouxe a real concepção dele desse mundo de deuses e deusas, e isso funcionou muito melhor do que o anterior. Apesar da condução que ele se propõe a dar aos personagens — levando-se em consideração todos os filmes que ele dirigiu —, com decisões equivocadas, como, por exemplo, moldar o Supeman tão contrariamente ao que esse icônico herói é; além de tornar o Batman em um brucutu sem os dotes marciais e afins (talvez isso fizesse sucesso nos anos 80). Mas acredito que o maior acerto dele tenha sido na exploração do Ciborgue. Diferente do que foi visto em 2017, onde ele é totalmente raso, aqui se torna uma ferramenta chave para que os heróis consigam avançar.
Porém, há outros aspectos interessantes no filme.
A ideia de dividir em capítulos possibilitou ao público para quem quisesse assistir em partes sem a obrigatoriedade de se manter em frente à televisão ou qualquer outro dispositivo, por quatro horas. É claro que todo esse tempo não foi à toa, ele queria contar a história dele independentemente do tempo que fosse permitido. Mas isso não é um real problema, afinal às quatro horas passam bem depressa.
A estética do diretr se mantém com uma abordagem bem escura, quase dessaturada e depressiva.
Agora, olhando os pontos negativos, um recurso que ele gosta de pôr nos filmes, é a câmera-lenta (slow motion), passou dos limites. Primeiramente, os momentos pontuais, onde há um motivo, ocorre muito bem, trazendo emoção. O problema acontece quando é resolvido jogar em várias cenas sem uma carga que exija essa técnica, além de utilizá-la a toda hora. Isso acabou sendo cansativo e irritante, pois retirou de várias cenas o peso que elas têm, atribuindo algum impacto ao próprio recurso.
Outro fator que me incomodou foi a trilha sonora. Ela não tem presença alguma, parecendo mais um sabor artificial a base de plástico. E, junto a isso, enfatizo aqui a trilha pertencente à Mulher Maravilha. A princípio, a troca da já clássica trilha sonora dela por outra completamente oposta, mas com uma coerência com a personagem, foi uma sacada legal. Mas é aí que vem o erro. A música entra a toda hora, em qualquer momento, por qualquer coisa que a Diana faça. Sim, estou exagerando muito, mas não deixa de ser verdade. Chega a ser insuportável!
Bem, quanto ao vilão, ela saiu do genérico Steppe Wolf — Lobo da Estepe, no Brasil — para o entendível Steppe Wolf. A primeira aparição dele, em 2017, além do péssimo trabalho digital feito, era desprovida de qualquer finalidade mais decidida. Não acho que seja essencial dar profundidade a vilões — ou qualquer tipo de personagem ou história —, pois depende da intenção do que se quer mostrar. Contudo, por se tratar do filme que criaria a união dos principais heróis da DC, julgo que era necessário ter essa base mais sólida nas motivações dele. Aqui, em 2021, isso aconteceu. Steppe Wolf busca redenção e perdão do mestre, o poderoso Darkseid. Essa atribuição dada ao personagem, mais a remontagem da história, funcionou muito bem.
Por falar no Darkseide, foi interessante vê-lo, apesar de eu não ter gostado muito do seu design. Mas, enfim...
Por fim, Zack Snyder's Justice League, apesar de ser muito melhor que o seu filho esquecível, ainda está muito aquém de ser um filme magnífico. Há muito CG; diálogos estranhos postos em bocas de personagens que jamais imaginaríamos falar tal coisa, além de uma ânsia amarga de ficar esticando certas cenas além do suficiente. Mas, apesar disso tudo, sim, vale a pena assisti-lo.
Se você for um fã de HQs, assim como eu, talvez a sua paixão sobreponha o discernimento. Agora, se você for fã de cinema, assim como eu, talvez isso te faça olhar com olhos um pouco mais infelizes, fazendo-o acreditar que muito mais poderia ter sido feito.
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