Grande filme clássico dos anos 80
O que me fez descobrir esse filme foi uma página no instagram. E o que me fez querer assistir foi o icônico Nicolas Cage e o fantástico Jim Carrey. Pois bem, dito isso...
Peggy Sue Got a Married (Peggy Sue — Seu Passado à Espera, no Brasil) é um filme bem simples, com uma premissa acolhedora e muito forte. Trata-se de uma história sobre escolhas e sobre poder mudá-las ou até mesmo refazê-las.
Com uma pegada cômica e dramática, ambas bem desenvolvidas, e um pé na fantasia — afinal, o que acontece com a protagonista Peggy não pode ser outra coisa —, a narrativa é bem trabalhada, expondo, quando necessário, uma profundidade diluída nos detalhes. O inicio do filme é bem rápido e logo expõe o que Peggy quer — ou gostaria — poder fazer com a vida dela. Os motivos que a fez ser do jeito que é e as consequências que isso deixou em si.
O filme é dividido em duas linhas temporais. O começo, em que vemos Peggy já adulta, por volta do quarenta anos de idade, mãe e divorciada, indo até aquelas reuniões de turma. E depois, quando ela é “transportada” ao passado — as aspas são propícias, pois o filme deixa isso em aberto.
Sem querer dar spoilers — não que eu evite isso —, na história, Peggy tem a oportunidade de voltar à adolescência dela, mas numa versão atual, ou seja: adulta. Esse é um dos melhores aspectos do filme. Vê-la com todos os anos e experiências vividas, faz com que ela aja de maneira contrária ao que um adolescente agiria — no caso, adolescente de filme americano. Ela não é acometida por todos os entraves chatos que há nessa fase da vida. Sincera, ela não faz questão de esconder nem segurar as palavras, condutas e desejos.
A personagem, além de ser bem interpretada pela atriz Kathleen Turner, que até foi indicada ao Oscar, é bem desenvolvida. Não há muito exposição por meio dos diálogos de como ela se sente. Ocorrem apenas rápidas explanações sobre certas situações, que já bastam para dar o tom da proposta. Vemos, logo no início do filme, que Peggy foi trocada por outra mulher. Então, quando ela retorna ao passado, a postura dela para com o futuro marido, que a deixará, é completamente entendível, sem ficar gastando tempo com explicações mais complexas.
Outro ponto bem interessante é a fotografia e o design de produção. O filme, quando Peggy volta ao passado, passa a ser ambientado nos anos 60. Isso faz toda a questão de figurino, cenário e objetos serem rearranjados. Tá certo que, à época, a distância para os anos 60 era pouco, mas não deixa de ser um ponto a se destacar por parte da produção do filme. Também vale ressaltar a estética de cinema clássico que existe. Em alguns momentos, vemos os personagens “afastados” da câmera, mas ainda falando, dando a impressão de serem narrações em off. Ficou muito interessante. E não só as questões já ditas, mas a trilha sonora e os créditos iniciais e finais são muito similares à estética do cinema clássico. É como se houvesse ocorrido uma amálgama, o que, para mim, ficou perfeito. Trilha sonora, aliás, que é bem melancólica e nostálgica.
Lá em cima eu falei que o filme é dramático, mas há um momento específico que pareceu ultrapassar essa definição, ficando mais sombrio e até mesmo depressivo.
Por fim, Peggy Sue Got a Married tem uma boa proposta, muito bem executada e que não se perde em si mesma. A única questão, negativa, talvez, que trago é que o filme se prende muito no segundo ato, demorando a empurrar a história ao desfecho. Parece-me de propósito isso, como se o diretor quisesse deixar a Peggy em dúvida de como agir, já sabendo como seria a vida dela, caso escolhesse o mesmo caminho. Ademais, é uma bela obra fílmica que deve ser assistido, pois traz bons valores a serem refletidos e que, cedo ou tarde, serão necessários em ser confrontados.
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