Filme foi bem ao saber adaptar clima angustiante dos jogos
Lançado em 2006, Silent Hill conseguiu ser uma das - poucas - exceções boas quando se trata de adaptações cinematográficas de jogos. Infelizmente, esse ambiente é recheado por péssimas produções que não conseguem trabalhar bem o material retirado das obras base. Claro, há filmes que fogem à regra, como Mortal Kombat de 1995 (o seguinte, de 1997, é asqueroso. Esperemos que o próximo (2021) seja bom). Mas, no geral, costumam ser fracos... Horríveis, na verdade. Desde Mario, no início dos anos 90. Street Fighter, com o dançarino Jean-Claude Van Damme; até os intermináveis filmes da franquia Resident Evil (o primeiro é OK, mas o restante é um pior do que o outro).
Voltando a Silent Hill, na história, acompanhamos a família Da Silva. Composta por Rose (interpretada pela Radha Mitchell), Christopher (interpretado pelo Sean Bean, o eterno Boromir) e a filha (adotiva) do casal, Sharon (interpretada pela Jodelle Ferland).
Um aviso: esse filme trabalha com realidades alternativas.
O filme tem como ponto de partida os sonhos (ou pesadelos) que Sharon costuma ter a respeito de um lugar chamado Silent Hill. Por ter um passado misterioso, mais o recorrente tormento que passa, devido a esses sonhos/pesadelos, Rose decide levá-la até Silent Hill. A ideia é encontrar alguma solução que possa ajudar a sua filha.
Sem avisar Christopher, Rose parte sozinha com Sharon. No meio do caminho ela precisa parar para abastecer o carro. O resultado disso é que a policial Cybil Bennett (interpretada pela Laurie Holden. Para quem não a conhece, Laurie interpretou Andrea, em Walking Dead), devido a um acontecimento que ocorrera pela região, decide seguir as duas. Porém, um acidente leva as três até um lugar pouquíssimo agradável.
O que vem a seguir é: as três vão parar em Silent Hill, mas Sharon está desaparecida. E o filme segue com os seguintes eventos: Rose na tentativa de encontrar Sharon, e Christopher a procura de ambas.
A história diz que a cidade de Silent Hill precisou ser evacuada, devido a um acidente que aconteceu anos atrás, que fez o ar ficar irrespirável. Mas o interessante é que, durante o dia, todos podem se locomover à vontade, porém, à noite, é essencial que se busque abrigo (em uma igreja, de preferência), pois os seres que a habitam surgem e trazem um verdadeiro inferno a quem vagar pela cidade.
Uma última coisa: para alertá-los, um som é emitido.
Filme trabalhou bem
A produção do filme é satisfatória, mas nada que salte os olhos. As interpretações são mornas, mas conseguem transmitir os anseios que pairam nesse universo terrível. Contudo, o designer de produção (especificamente na cidade de Silent Hill) tem uma forte presença. Apesar da utilização em grande escala de computação gráfica, os cenários são bem construídos. Principalmente, por precisarem passar a claustrofobia, pavor e desespero que a história exige. Neste caso, foram medianos.
As criaturas também contribuem com os seus visuais dantescos e repulsivos. Mas penso que funcionariam melhor com mais efeitos práticos e maquiagens tradicionais (antes de qualquer coisa, isso é a constante do filme). Afinal, o CG (ainda mais quando não é tão bom assim) retira a imersão do filme e, até mesmo, remove a carga que determinados personagens, e o ambiente, devem passar. Para quem for assistir, verá que certos personagens são bem caracterizados (como as belas Enfermeiras, o Pyramid Head e a coisa do banheiro). Mas é notório que, às vezes, o CG serve, muito mais, para facilitar a execução de certos aspectos do que para trabalhar em prol da história e sua narrativa.
Durante o dia, a ambientação é de uma cidade abandonada (comum?). É só quando à noite decide surgir que ela se torna um imponente pesadelo. As ambientações ficam permeadas por sombras e servem para dar uma aura de aflição e constante perigo. A bizarrice que acompanha vem por intermédio das criaturas. É uma mais distorcida do que a outra.
A trilha sonora também faz bem o seu papel. Sem grandes invenções mirabolantes, as músicas (que vieram dos jogos), algumas, foram modificadas e recriadas, outras se mantiveram iguais. São melancólicas e solitárias e trazem uma tristeza aos ouvidos. A única que não é de nenhum jogo é “Ring of Fire”, de Johnny Cash.
Não é mais um entre tantos
Como apontado no subtítulo, Silent Hill soube entender bem o universo em que se passa. Mesmo com a crítica especializada pesando negativamente, reitero que o filme está em um nível satisfatório. Ainda mais por ter sido construído em cima de um jogo que tem como base central a jogabilidade e o que ela proporciona ao jogador, muito mais do que a história.
Agora, não chega a ser um filme assustador - em uma concepção extrapolada da palavra - tipo os que obrigam evitar a dormir em qualquer horário do dia. As criaturas são bizarras e o clima horrível, mas, mesmo assim, é tranquilo. O gore surge em momentos limitados é não faz falta. Afinal, Silent Hill trabalha mais o terror psicológico, antes de outra coisa.
Silent Hill é o meu filme de terror favorito (a trilha sonora e o clima depressivo são maravilhosos), por isso, peço que dê uma chance, mesmo que esteja trás de algo mais agressivo ou, até mesmo, grosseiro.
A história é um pouco (pouco mesmo) complexa, mas nada que impossibilite o seu entendimento. E a narrativa, aos poucos, ajuda a explicá-la.
Um lembrete: houve uma sequência, em 2012, mas é fraco.
Enfim, para quem cansou de adaptações porcarias (alguém se lembra dos filmes da Lara Croft: Tomb Raider, com a Angelina Jolie?), Silent Hill é um respirar aliviado.
Não chega a ser uma obra-prima, mas, pelo menos, se mantém em pé, com dignidade e muita angústia.
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