Modesta adaptação, mas ainda uma boa história
Adaptação direta do maravilhoso livro homônimo, O Tempo Entre Costuras foi lançado em 2013, pela produtora espanhola Boomerang TV. Com 17 episódios, a série apresentou sem muito ânimo a jornada da costureira Sira Quiroga (interpretada pela atriz espanhola Adriana Ugarte).
Apesar de ter gostado, eu não posso deixar de dizer que a série poderia mais. Ela não é ruim, antes de mais nada. É assistível e com uma produção satisfatória. Mas peca pela falta de criatividade. Diferentemente do que houve, por exemplo, com Sharp Objects, aqui tudo parece circular em meio a um comodismo. Algumas interpretações, por exemplo, são estranhas, parecendo forçadas e artificiais. Personagens como Rosalinda Fox (Hannah New), Jamila (Alba Flores), Marcus Logan (Peter Vives) e Juan Luis Beigbeder (Tristán Ulloa), entre outras, são muito caricatas. Soam sem inspiração, frias. Parece que queriam tanto ser igual à versão literária, que acabaram extrapolando, indo para a direção errada.
Houve algumas alterações na trama, mas não acho que comprometeram. Gostei de algumas, porém outras achei desnecessárias. Mas, num todo, são irrelevantes para o resultado final da série.
O que mais me incomodou foi a falta de um querer mais forte, um arriscar mais incisivo. Mesmo sabendo que adaptações tendem a ter diferenças (boas ou ruins) muito evidentes, é preciso encontrar um ponto, um norte e ir em frente. Novamente, uso Sharp Objects como exemplo. Na adaptação do livro da Gillian Flynn, houve uma transposição perfeita da aura depressiva e amarga que permeia a cidade de Wind Gap, e, principalmente, da vida da jornalista Camille Preaker. Você sente todo o pesar daquele mundo triste e cheio de sofrimento. E com os recursos visuais, tudo foi acentuado, colaborando para uma execução coesa e excelente.
Já em O Tempo Entre Costuras, que deveria ter uma camada aflitiva, afinal, a série se inicia no período da Guerra Civil Espanhola, indo, depois, para a Segunda Guerra Mundial, isso não acontece. E mesmo tendo esse background como pano de fundo é pouco sentido. Não há uma exposição — como ocorre no livro —, mesmo que sutil, que passe essa situação inquietante.
Mas devo ressaltar o belo trabalho feito no design de produção. Há um cuidado em trazer toda a ambientação da época. E as vestimentas são o ponto forte. Por ser modista, Sira aparece com diversos modelos em seu corpo. E para quem gosta desse aspecto em produções audiovisuais, ficará encantado com a moda vigente da época.
Por fim, O Tempo Entre Costuras é uma série mediana que, por ser a adaptação de uma grande obra, consegue, mesmo parecendo não querer, contar uma história envolvente e atraente. Mas fica o desapontamento por não ter sido capaz de apresentar toda a maravilha criada pela autora María Dueñas.
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