Documentário fala sobre medo, dor, sofrimento, esperança... Ser humano
Cada um tem a própria jornada, com suas escolhas e batalhas. Num primeiro momento, alguns podem caminhar por estradas fáceis. Mas o que começa sendo o paraíso, aos poucos, começa a se transformar em um grande abismo de desespero e angústia. E não há como se preparar para isso. E o que acaba acontecendo a seguir? Depressão. Autocomiseração. Medo. E — por que não? —, morte.
Mas têm aqueles que encontram soluções, saídas para esse tormento, em lugares longínquos, inesperados, abstratos. Por exemplo, precisar se lembrar constantemente de que há algo, alguma coisa pela qual vale a pena continuar, para não dar um basta na própria existência. E têm os que acabam indo para um caminho mais comum, religioso. E foi isso que Brian “Head” Welch fez.
Loud Krazy Love, documentário lançado em 2018, conta a história de Brian, guitarrista do Korn, e a difícil tarefa dele em lidar com uma vida em migalhas. Apresentando a jornada dele durante o período em que esteve na banda, antes de sair em 2004, e o que ela lhe trouxe. Problemas com o álcool, drogas e perversidades foram alguns dos empecilhos que surgiram numa carreira de sucesso. Mas também houve luz. E Brian teve uma filha.
Durante um pouco menos de uma hora e meia, presenciamos a dura tarefa de um homem, em constantes viagens e shows, com a missão de ser, também, um pai, alguém que deve estar próximo da filha e dar a vida por ela.
O documentário mostra um pouco da vida de Brian, desde a infância, por meio de depoimentos dos pais dele, até a ascensão com o Korn. E mostra, também, de uma maneira bastante íntima, os problemas que ele foi enfrentando, mais a conduta destrutiva durante esse processo.
Brian é o fio condutor da narrativa, aparecendo e participando ativamente da história. Ele aparece falando do período mais sombrio da vida dele e de que como a religião acabou ajudando-o. Da relação inexistente dele com a filha, Jennea Marie Welch, durante um grande período da vida. E, também, o ódio que ela sentia pelo próprio pai, por tornar a existência dela insignificante.
Mais do que um documentário que mostra o auge e a queda — no sentido profissional — de um artista, Loud Krazy Love é a história de um homem em busca de autoconhecimento, em busca de respostas. É sobre encontrar um sentido, encontrar um porquê. Encontrar o certo e o errado e saber diferenciá-los. É sobre não querer desistir.
Quanto à religião, particularmente, esse é um ponto na qual eu tenho opiniões bem definidas, e que, normalmente, acabam ofendendo aos adeptos a Deus (ou demais). Mas reconheço, pois tenho parentes que acabaram se enveredando por esse caminho, a condição de auxiliar e, até mesmo, proporcionar alívio de caráter terapêutico aos idealizadores. E vemos como Brian entrou fundo — até demais — nessa coisa toda. No começo, ele sente que alcançou um lugar de socorro, refugio. Um lugar que sanará as mazelas incuráveis dele. Mas, obviamente, ele acaba percebendo que não é tão fácil assim se livrar das próprias trevas e meio que vai repetindo os mesmos erros, só que por outros vieses, questionando-se sobre as escolhas feitas e se elas fazem algum sentido.
Apesar de ser uma merda a vida dele, é atraente para quem assisti — eu me senti assim, pelo menos — ver como ele vai agindo, fanaticamente (isso nunca ajuda), imerso nessa nova filosofia na qual ele entrou. Com a certeza de que irá se livrar de todo o mal que brotou na vida dele, Brian começa a tomar atitudes muito precipitadas. Desde vender os prêmios conquistados com o Korn, até a ficar gastando — e dando — toda a fortuna quem tem a esmo. O resultado disso: ele acabou falindo.
Há também os conflitos que surgiram com os membros da banda, após a saída dele. Isso ecoou mais forte com Jonathan, o vocalista do Korn. E eles ficaram durante alguns bons anos sem se falarem.
Porém, um dos momentos mais emocionantes surge já no final do filme. Durante um festival em que Brian estaria tocando com a banda dele, Love and Death, e o Korn também participaria, um encontro foi organizado para que eles tocassem Blind, música mais famosa do Korn — o que ocorre. E, devido a isso, simbolizado pelo abraço entre Brian e Jonathan, toda a carga negativa que existia entre os amigos de longa data, naquele momento, deixa de existir.
Brian voltaria ao Korn em 2013.
Loud Krazy Love traz boas reflexões, dando espaço para essa aura filosófica. As dúvidas, indecisões, incertezas que circundam a todos. O porquê da vida, a ser vivida, ser da maneira que é, e o porquê de ser tão difícil sair de dentro dela e fugir para o mais longe possível. E o porquê devemos prosseguir.
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