Homenagem aos anos 80, Slash Movies... E só
Quando eu soube que American Horror Story faria uma temporada focada na cultura dos anos 80, e com os filmes de assassinos como base, fiquei bastante animado. Pois, essa junção, de dois temas que gosto, seria explorada mutuamente.
A expectativa gerada em mim foi grande, ainda mais por saber que se tratava de uma produção que já fizera bons trabalhos. American Horror Story: Asylum (segunda temporada) e American Horror Story: Freak Show (quarta temporada) são muito boas — a segunda, principalmente, é a melhor até agora. E, apesar de eu não ter (ainda) assistido da sexta à oitava temporada, as demais mantiveram um nível satisfatório — algumas mais, outras menos.
Nessa temporada, o elenco, apesar de não ter as duas atrizes que mais gosto, Taissa Farmiga e, principalmente, Sarah Paulson, não é ruim. Como destaque, temos, novamente, Emma Roberts; Billie Catherine Lourd, filha da atriz Carrie Fisher. E John Carroll Lynch. Eles são o ponto alto.
E igual a um bom filme oitentista de terror, apesar de ser uma série, não poderia deixar de ter os arquétipos de personagens tão característicos dessas produções.
Além do laque nos cabelos, vemos a garota tímida, o cara bonitão, o maconheiro e a piriguete. Nada mais clássico do que isso! Mas — ainda bem — diferente das antigas produções que, normalmente, eram superficiais, aqui vemos mais profundidade nos personagens, além dessa construção básica.
A história
Como não poderia deixar de ser, a história da série é um grande apanhado dos filmes slash. Para quem não sabe, são os filmes onde vemos um assassino, real ou sobrenatural, que sai aniquilando a garotada, na facada, machadada, motosserra e afins.
Aqui, em AHS: 1984, de início, acompanhamos um grupo de jovens (né?) que irá passar um tempo em um acampamento (muito bom!). Só isso já é o suficiente para qualquer fã querer assistir. Inclusive, temos o louco da cidade que alerta do perigo que ronda o lugar, mas que ninguém acredita.
A série avança com os clichês pretendidos. Mortes começam a ocorrer no acampamento, enquanto os personagens tentam sobreviver.
Porém, a série faz uma mistureba tão grande, que satura em demasia a sua intenção. Há muita coisa apresentada e isso causa um exagero com o conteúdo exposto.
O interessante — e engraçado — é ver as atuações dos atores e a qualidade técnica da produção. Isso é um contraste muito grande em relação aos filmes referenciados. Naquela época, basicamente, tínhamos um “amadorismo” latejante na tela. Para quem duvida, basta ver os dois primeiros Sexta-feira 13. Aliás, o segundo filme tem um erro gritante.
Até o quarto episódio a série vai bem, porém, após isso, ela se envereda por escolhas, penso eu, equivocadas. Por exemplo, certos personagens, após sofrerem consequências, perdem espaço ou são postos em contextos desinteressantes. E, pior do que isso, eles recebem a maldita redenção. Essa porcaria de praga que infesta muitas obras de terror.
Os personagens não podem manter as suas condutas ruins, más. Eles precisam se tornarem bons seres humanos. Independentemente de o porquê disso, é deprimente ver que várias produções blockbusters seguem por esse caminho enfadonho.
Esse mesmo problema persiste quando o assassino — um deles — também decide se redimir e se tornar bom. É um verdadeiro pé no saco ter que ver esse tipo de coisa.
Mas há vários problemas, além desse.
Toda a ideia de trabalhar em torno dos anos 80, mais o lance dos synths, da música pop, da estética é muito mal explorado. Com exceção da abertura — excelente, por sinal — , todo o resto é fraco, com pouca ênfase. Tudo está mais concentrado no aspecto do terror mesmo, que, por sinal, também é muito fraco. O suspense e jumpsacres inexistem aqui ou são péssimos.
E, mais uma vez, um final RUIM
Um final pode ser ruim por várias questões. Desfechos incoerentes com o que foi apresentado. Resoluções fáceis, acima do desafio proposto. Narrativa apressada para poder contar o que não foi contado. Enfim, há muitas possibilidades capazes de destruir uma obra.
Contudo, pior de o que tudo isso, é um insuportável final feliz em uma série de TERROR! Veja bem. Não é errado, muito menos proibido fazer uma junção de gêneros. Isso é o que mais acontece. Ainda mais se você homenageia filmes que “trabalhavam” esse resultado.
Muitas obras, em seus finais, davam a entender que o inimigo imparável, quase invencível, fora derrotado. E, normalmente, no filme seguinte, ele retornava, uma vez mais, para continuar com a sua chacina. Contudo, em AMH:1984, essa resolução extrapola e muito tal conceito.
TUDO. Repito: TUDO, termina bem. Até quem foi morto — do time do bem, obviamente — encontra um propósito em sua nova “vida”. Não há brechas para que essa névoa, da dúvida, possa ser rompida. Os vilões estão mortos ou contidos.
Não sou um especialista em slash movies, mas já vi alguns filmes do gênero em meus 28 anos de vida. E, até onde recordo, de fato, há finais onde os heróis sobrevivem e conseguem sair do inferno em que se encontravam. Mas há sempre a sugestão de que haverá um retorno adiante, que o mal ainda espreita. Seja por alguém que decide mexer onde não deve; ou por haver uma peça retirada do que fora apresentado para dar continuidade no terror que existia.
AMH: Asylum e AMH: Freak Show, por exemplo, não fizeram isso. Não há bonzinhos nas histórias. E os finais são bastante agressivos (com mãe que mata o filho, inclusive).
Por isso, é tão decepcionante ver uma temporada, focada em assassinos, ser finalizada com um ar alegre e de esperança.
De todas as que eu assisti, AMH: 1984 foi a pior de todas.
Próximas temporadas
Por causa da pandemia da COVID-19, a décima temporada, que deveria estrear em 2020, está programada para começar a ser produzida em 2021. E, junto a isso, no começo de 2020, já foi renovada para mais três temporadas. Ou seja, ainda teremos AMH por um bom tempo.
Fica a curiosidade para ver quais temas serão abordados nas produções futuras. Porém, também o receio para as conclusões que serão propostas.
Enfim, é esperar para ver. Ainda mais com a presença de Macaulay Culkin na décima temporada.
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