top of page

Assistindo After Life (1º Temporada)

Foto do escritor: Marcos ViníciusMarcos Vinícius

Atualizado: 21 de mar. de 2023

Humor negro de primeira qualidade

After Life (imagem da internet)

Assisti recentemente, e não me arrependi!


After Life é uma série de drama/comédia, lançada em 2019, muito bem produzida e com uma pegada bastante incisiva e expositiva, e sem frescuras. Mas, o que mais me agradou foi a agressividade e, ao mesmo tempo, a sutileza com que ela trata os temas — certamente pesados, para alguns.


Porém, junto a isso, ela traz (para quem quer) uma demonstração de como é possível lidar com dificuldades e fazer piadas e rir, ao invés de ficar sofrendo para sempre ou tentando censurar, ao dizer que é errado (preconceituoso, discriminatório e outras imbecilidades), ao exigir das pessoas um comportamento frágil, permeado por um falso altruísmo e empatia — algo tão presentes na sociedade de diversos países.


Digo isso, pois, por ser fã hardcore de humor (negro, principalmente), cansa-me ver tanta fiscalização e perseguição em cima dessa forma de arte. Ainda mais quando as pessoas querem proibi-la, usando da desculpa de que ofendem alguém (só não sabem quem).


After Life é uma série inglesa, que ousa em trazer uma abordagem bastante crítica ao politicamente correto.


Na história, vemos o jornalista Tony (interpretado pelo genial Ricky Gervais) que sofre de depressão, desde a morte da esposa (por câncer). Ele costuma pensar em cometer suicídio, mas não faz.


Tendo esse ponto como desculpa, Tony se acha no direito de ser uma estúpido e se torna um baita de um babaca, sendo grosseiro e ofensivo com as pessoas como uma forma de punir o mundo pela morte da esposa. E é aí que está a sacada da série.


Com essa porcaria de "lugar de fala" e outras asneiras, em que é preciso um aval que justifique determinada postura, quem pode dizer que um homem que sofre pela morte (por câncer) da esposa não tem o direto de ser um imbecil com qualquer um e fazer os comentários mais absurdos? Tony tem esse direito, pois foi "conquistado" por ele.


Rick Gervais usou do argumento de que, para se falar de algo, tem que se estar dentro desses grupos que "ditam as regras". Gordos podem fazer piadas com gordos. Magros, não. Entendeu a jogada? Um depressivo, que perdeu a esposa para o câncer, pode fazer piadas com câncer, morte, sofrimento (afinal, ele tem esse "passe"). Uma pessoa alegre, com a esposa viva, não.


E esse tipo de discussão é uma das que eu mais vejo atualmente. Pessoas que se "importam" com o próximo e dizem que não se deve fazer piada com determinados temas, pois elas "agridem" (essa palavra mesmo) os alvos das piadas. Isso é consequência de vários motivos, mas alguns que percebo são: desconhecimento entre o que é ofensa e o que é humor, comédia e, principalmente, uma piada; preguiça e, o mais escroto de todas, desonestidade imbuída de mau-caratismo. Sabe que não é nada demais, mas finge achar que é.


Deixa eu voltar para a série.


Contudo, ao mesmo tempo, Tony, em certos momentos, reclama por não receber solidariedade e piedade das mesmas e se torna um poço de autocomiseração, cheio de sofrimento — em que sempre quer mais.


Até aí, tudo certo...


Mas a série (1º temporada tem 6 episódios) é uma caixa cheia de inteligência e astúcia.


Para quem não sabe, Ricky Gervais é o idealizador (ou criador?) do The Office inglês. Isso já dá o tom do nível do cara.


Além de diretor, ator e roteirista, é um comediante excepcional de stand-up (inclusive, vejam o discurso que ele fez na cerimonia do Globo de Ouro de 2020. É fantástico!). Ele é totalmente contra essa estupidez de politicamente correto (para quem acompanha o cenário da comédia, sabe o quanto isso é burro, hipócrita, pobre, autoritário, presunçoso e danoso ao humor, aos comediantes e a todo mundo).


E, na série, ele resolveu apresentar uma maneira — muito ignorada — de como se comportar diante de uma realidade difícil.


Tony, como já mencionei, sofre por respirar. Mas, com o avançar da vida, e situações específicas, ele percebe que é melhor lidar com a perda, a dor, a saudade... Sorrindo, olha só! Fazendo piadas e encarando-a de frente, ao invés de se afundar em um buraco negro cheio de angústia e lamúrias (que, aliás, é onde ele começa ).


E é justamente aí o ponto!


Não é por que a situação é aflitiva, desesperadora, que precisamos encará-la de cabeça baixa, com medo, igual um panaca, um imbecil. É óbvio que haverá sofrimento, mas é preciso entender que é essencial tentar lidar com a situação (ou situações) com menos pesar, piedade, lamúria. Por que, senão, é melhor abraçar as trevas de uma vez.


E eu digo isso, pois lido com depressão há anos — tenho lugar de fala! E, em determinado momento, percebi que seria mais “fácil” sair dessa bosta toda se eu parasse de querer tratá-la de forma "séria".


É óbvio que essa forma de agir não é a cura. Mas é um caminho a seguir, capaz de diminuir o abismo que nos prendem, pois se não pudermos rir das dificuldades, problemas, deficiências e empecilhos que nos pairam, com o intuito de anuviar um clima podre, é melhor desistirmos logo e irmos ao encontro da morte.


O humor não é uma forma de, somente, ofender alguém. Ele é muito mais do que isso!


Tem efeito curador. De cicatrizar feridas que se recusam a fechar. De diminuir o peso da dor que somos obrigados a carregar nas costas. E isso é incrível! Rir das perdas, ser capaz de tirar sorriso por meio delas é mais do que um simples — e burro — rótulo de desrespeito. É uma saída, uma fuga, uma salvação. Um milagre.

After Life, apesar de ser muito explícita, direta ao ponto na proposta (prefiro algo mais diluído, no subtexto), é extremamente eficaz. Não perde tempo com diálogos inúteis nem cenas mortas. Cada parte é objetiva, focada e, claro, com piadas grosseiras e até mesmo obscenas.


Ricky Gervais mostra por que é um grande gênio. O texto dele é afiado e preciso.


Vale a pena assistir, ainda mais para quem gosta de comédia. Mas o drama apresentado também é válido, pois contribui com a ideia oferecida pela série.


5 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


O Memoria Indie é um blog que fala sobre alguns temas bem legais: cinema, música, literatura e HQ, além de abordar outros assuntos que possam ser interessantes. Com isso, procura apresentar um conteúdo com foco na exposição dos textos, e, assim, trazer uma leitura leve e que não expulse os nossos leitores...

© 2020 por Memória Indie. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page