Com OHMS, banda mantém a constância de bons álbuns em sua discografia
Após 4 anos sem lançamentos, o Deftones voltou com um novo álbum: OHMS (2020). E, para a não surpresa de quem já conhece a banda, mais um grande trabalho foi apresentado ao mundo.
Apesar de algumas críticas negativas ao seu predecessor, Gore, de 2016, o Deftones não se acovardou e resolveu experimentar novamente. O que, aliás, é marca registrada da banda.
Mas, dessa vez, de uma maneira, penso eu, mais coerente com o próprio estilo da banda. Trouxeram de volta o protagonismo a estridente guitarra de Stephen Carpenter, com mais força e presença. E, aí sim, uma surpresa mais do que bem-vinda: um destaque maior ao sintetizador de Frank Delgado. Talvez, esses dois elementos, sejam os mais bem elaborados no álbum. Diferente do que ocorreu lá atrás, em 2016, onde a guitarra estava quase que deixada em segundo plano (assim como a bateria, o baixo e o sintetizador), com OHMS isso não aconteceu.
O álbum mantém outra característica da banda, que são os vocais alternados de Chino Moreno. A sua voz melódica, sensual, poética, trabalha em sinergia com os seus gritos raivosos, roucos, ardidos. Apesar da idade, 47 anos, ele ainda consegue soltar uns berros assustadores - pelo menos em estúdio.
No geral, OHMS me soou como um apanhado de certas características de álbuns anteriores, porém, com um discurso próprio. E isso foi, extremamente, satisfatório. A banda não ficou com medo de olhar para trás e copiar algo já feito. Pelo contrário. Decidiu aprender com tudo o que já fizeram e colocar algo a mais em meio a esse processo. E o resultado não poderia ter sido outro. Uma primazia de disco!
Os álbuns que lembrei, enquanto ouvia OHMS, foram: White Pony (2000), Deftones (2003) e Koi No Yokan (2012). Engraçado que nada soou igual às músicas dos respectivos álbuns, mas reconheci muita coisa que há neles. Não sei como eles conseguiram fazer isso, mas foi algo fantástico.
E, talvez para quem não conheça, também vi certos elementos do Palms, uma das bandas de Chino. Os devaneios, os vocais mais atmosféricos, me remeteram, diretamente, a essa banda
Outro ponto válido foi a volta do peso ao som. Não que o Deftones seja uma banda de metal pesado, na verdade, eles sempre trabalharam essa dualidade do leve, calmo, com o agressivo e violento. Porém, com Gore, isso foi deixado de lado. O álbum até tem essa estética, mas ficou meio confuso.
Apesar de ser um desejo meu eles lançarem algo, realmente, pesado, tipo death metal, fico satisfeito em ver que eles ainda buscam essa essência que faz parte da banda. Diferente de outras que se perderam em um experimentalismo complicado, tipo: Slipknot e Korn. Quando me refiro a essas duas bandas, e digo experimentalismo, não quero dizer algo estilo Mike Patton. Mas, sim, que eles perderam muito do que eram em suas origens. Tudo bem que há evolução e uma busca para se aprimorar e se tornar uma melhor versão de si mesmo, afinal, ninguém merece viver para ser um AC/DC. Porém, julgo ser primordial manter o que era no começo e o que levou ao grande interesse do público, para não descambar para outros caminhos (vejam o exemplo do Link Park – ainda bem que eu nunca curti o som deles).
O Deftones, dentro do que eu conheço de música, é uma grande exceção. Os caras, que começaram na época do mal falado new metal, na década de 90, com o lançamento do primeiro álbum, Adrenaline (1995), que veio com pegada hardcore, bem cru e sujo, souberam seguir em frente e continuaram o que sempre foram. Mesmo com dois álbuns (Saturday Night Wright, 2006, e o próprio Gore) mais isolados, posso dizer, nunca deixaram de soar como o Deftones. E isso é um grande mérito.
Quanto a OHMS, o álbum possui 10 músicas (felizmente!). Não há espaço para loucuras e saturação com músicas maçantes e enfadonhas. Tudo está onde deve estar. O som, às vezes, é sombrio, agoniante. Mas há os momentos mais tranquilos. E Chino voltou com os vocais falados, aflitos, iguais vimos em Around The Fur (1997) e Deftones (2003).
Deftones sendo Deftones
Essa banda, que quase encerrou as suas atividades, após o acidente que o baixista Chi Cheng (morreu em 2013) sofreu, mas que é tão exaltada, parece não saber fazer algo ruim, que desagrade aos fãs e ao cenário musical. É visível que eles, apesar dos visuais simplórios, sem dreads ou máscaras, são excelentes músicos. A criatividade que emerge desse quinteto é tão única e funcional, que não consigo imaginar eles em algum tipo de decadência, como aconteceu a inúmeras bandas de new metal. Inclusive, eles sempre rejeitaram essa alcunha. O que faz sentido. O som deles está mais para o alternativo ou experimental. Além da originalidade nítida que conseguiram criar.
Por fim, OHMS é mais uma grande obra da banda, tão acostumada a fazer ótimos trabalhos. Para quem já é fã, não há o que falar. Agora, para quem quiser conhecê-la, esse álbum é uma boa porta de entrada. E garanto que o que virá a seguir é tão bom quanto.
OHMS foi um grande retorno, apenas espero que não levem mais 4 anos para isso.
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