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Lendo Velvet Kiss

Foto do escritor: Marcos ViníciusMarcos Vinícius

Atualizado: 22 de mar. de 2023

Além de um veludo erótico

(imagem arquivo pessoal)

Possa ser que você não queira dar uma chance a esse mangá, pois ele é hentai. E hentais são mangás que não se dedicam a trabalhar as histórias com afinco, acrescentando algo além do físico. Afinal, esse gênero costuma ser visto como um simples oceano de perversão e erotismo, de uma obscenidade sexual pervertida (nota: essa estrofe contém ironia).


Mas é fato que há muito desinteresse em dar crédito a obras hentais, pois se pensa que não há mais do que uma reles pornografia estampada na arte quadrinesca (e mesmo se houver, isso está longe de ser um problema ou estar errado). Pelo menos das obras que conheço, algumas se dedicam a trabalhar o roteiro de uma maneira interessante, criando bons personagens, uma narrativa minimamente básica e funcional, e com conteúdo passível de ser extraído.


Afinal, assim como acontece com a indústria de cinema adulto, em que inexiste história, os hentais normalmente também se enveredam por essa escolha. E isso não é um problema, já que é a proposta que esses tipos de produções/produtos possuem. Mas é legal quando há substância e saem de um caráter unicamente corporal. E em Velvet Kiss pude ver mais do que um mundo luxurioso.


Por mais que a história orbite nessa temática sexual, ela consegue se mostrar interessante, principalmente por causa dos dois protagonistas.


Primeiramente, Velvet Kiss foi escrito pela mangaká Chihiro Harumi, e lançado aqui no Brasil pela Editora New Pop, sob o selo H (em que os títulos adultos da editora são lançados). A qualidade do acabamento é satisfatória sem grandes destaques. E o preço também é razoável.

(imagem arquivo pessoal)

O traço da autora é bem limpo sem as insuportáveis tempestades visuais. E o texto é comedido, não ocupando muito tempo da narrativa, até mesmo por que isso não é o objetivo.


Quanto à história, acompanhamos as vidas: do burocrático trabalhador assalariado japonês padrão, na figura de Shin Nitta. E da milionária e apaixonada por... — e vazia — Kanoko Kikuchiya.


A história tem o empurrão quando Nitta é informado que está devendo a inacreditavelmente e exorbitante quantia de 80 milhões de yenes para a empresa da família Kikuchiya. Ele fica desesperado ao perceber que não terá como quitar a dívida. Porém, uma solução é proposta para Nitta: tornar-se o acompanhante da filha do dono da empresa, Kanoko, para que a dívida seja congelada. Obviamente, Nitta aceita tal proposta, afinal é muito mais “fácil” do que ter que pagar um valor altíssimo. Contudo, essa decisão acaba se tornando um evento insano e sexual demais.


Nitta, já perto dos trinta anos, não vê nada de mais acontecer em sua monótona vida. Sem graça e sem sorte, ele acaba sendo infortunado com a desgraça de uma dívida absurda, após ter sido fiador e enganado por uma pessoa.


Kanoko faz Nitta de capacho, tratando-o como bem quer. Mas, por alguma razão, acaba sempre ficando com ele. Nitta, por sua vez, vê-se obrigado a aceitar os luxos da jovial Kanoko, pois ele não pode negar as vontades dela.

(imagem arquivo pessoal)

Porém, mais do que sexo, em Velvet Kiss, é possível extrair alguns temas válidos.


É interessante ver o comportamento de alguém por causa de dinheiro, que está endividado até o limite. Do que é capaz de fazer, por mais surreal que possa ser. Ou melhor, do que é capaz de fazer diante de uma situação absurda. Nitta, amedrontado, inicialmente se torna resignado, aceitando tal condição como um dogma. Contudo, após a fala de uma personagem, ele meio que tem um estalo para sair da inércia e tenta se livrar dessa realidade bizarra dele.


E isso é uma verdade, pois tendemos a desistir antes mesmo de tentar, diante de situações ditas impossíveis.


Kanoko também é uma boa personagem. A solitária garota, que vive uma vida oca, parece morta por fora — e por dentro. Ela não sorri e age igual um zumbi. O comportamento dela, no começo, é ríspido, antipático, como se ela não se importasse com nada e ninguém — inclusive consigo mesma. Porém, ao ter contato com Nitta, ela começa a enxergar outros caminhos na vida, além de ser apenas uma obcecada por sexo.


O que acontece é que Kanoko sofreu um grande trauma quando criança, tornando-se uma espécie de sabotadora de si mesma, como se não houvesse luz no horizonte.


Mas, felizmente, uma das vantagens em envelhecer é amadurecer e se tornar mais consciente de si mesmo e do que podemos ser. E Kanoko consegue isso. Ela deixa de ser uma coitadinha, que adora uma autocomiseração, e passa a sorrir e lutar por uma vida mais digna. E a história segue nesse ritmo, com Nitta e Kanako sempre se relacionando (fisicamente), enquanto as emoções e comportamentos deles vão variando; e um meio que tentando entender o outro.


Velvet Kiss está longe de ser uma obra-prima, mas voa longe de um simples hentai vagabundo. Tem base, forma, contorno, e uma aura, acredito, otimista, esperançosa. É uma obra simpática, que pode ter causar sensações diversas. Mas vale a pela se você estiver disposto a tentar olhar além da superfície, que, nesse caso, é bastante suado e quente.



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